O plano da senadora dos EUA que quer dividir Amazon, Apple, Facebook e Google

A senadora Elizabeth Warren é uma potencial candidata do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos nas eleições de 2020. Uma de suas propostas é “devolver a competição ao setor de tecnologia”. Para tanto, ela apresentou um plano ousado: dissolver gigantes como Amazon, Facebook e Google em negócios menores.

Em um post no Medium, a senadora diz que “é hora de frear Amazon, Google e Facebook”. Para Warren, essas três companhias possuem poder demais, tanto que são capazes de exercer influência sobre a economia, a sociedade e a democracia americana. “Nesse processo, elas acabam prejudicando as pequenas empresas e sufocando a inovação”, ainda de acordo com a senadora.

Dividir para “desdominar”

Para validar o seu argumento sobre a importância de cortar as asas dessas companhias, Elizabeth Warren dá um exemplo curioso: o processo antitruste que a Microsoft enfrentou durante 13 anos e que só foi finalizado em 2011. A companhia foi acusada de usar táticas anticompetitivas para fazer o Internet Explorer dominar o segmento de navegadores.

No entendimento da senadora, o processo contra a Microsoft ajudou a abrir caminho para o surgimento de gigantes da internet como Google e Facebook. Porém, agora, elas é que formam o time do mal.

Warren reconhece que as gigantes de tecnologia fornecem serviços valiosos, mas afirma como contrapartida que elas “exercem enorme poder sobre nossas vidas digitais”, dando como exemplo o fato de quase metade do comércio eletrônico dos Estados Unidos passar pela Amazon ou de mais de 70% do tráfego da internet ter como base sites controlados por Google e Facebook.

Elizabeth Warren (foto: CNN)

O plano da senadora para acabar com o domínio dessas companhias consiste, basicamente, em duas propostas. A primeira é criar uma legislação que impede as empresas de integrarem serviços em suas próprias plataformas quanto estas admitirem terceiros. Assim, a Amazon não poderia vender seus próprios produtos em seu marketplace, enquanto o Google ficaria impedido de promover seus serviços em seu sistema de buscas, por exemplo.

Mais agressiva é a segunda proposta: ela determina que fusões consideradas anticompetitivas sejam desfeitas. Com isso, a Amazon não poderia mais controlar a Whole Foods e a Zappos, o Facebook ficaria impedido de ser dono do WhatsApp e Instagram, e o Google teria que se separar de serviços como DoubleClick (atualmente sob o guarda-chuva da plataforma Google Ads), Waze e Nest.

Também vale para a Apple

Se essas propostas forem aprovadas, a Apple ficaria de fora? Ao The Verge, a senadora disse que não, apesar de a companhia não ter sido mencionada em seu texto no Medium. Na verdade, as propostas de Warren valeriam para qualquer companhia de tecnologia com faturamento anual igual ou superior a US$ 25 bilhões.

No caso da Apple, a companhia não poderia manter a App Store e, ao mesmo tempo, distribuir suas ferramentas por lá. Isso porque a Apple (ou o Google, no caso da Play Store) pode colher informações sobre as outras empresas que vendem aplicativos na plataforma em benefício próprio, bem como priorizar os seus aplicativos na loja.

Empresas com faturamento entre US$ 90 milhões e US$ 25 bilhões teriam que cumprir as mesmas regras que determinam que as companhias maiores ofereceram “tratamento justo e não discriminatório aos usuários”, mas não seriam obrigadas a desmembrar as suas plataformas.

Missão quase impossível

É claro que uma ideia dessa magnitude geraria polêmica. Até o momento, Amazon, Apple, Facebook e Google não se pronunciaram sobre o assunto, mas várias organizações já estão se manifestando contrárias ou favoráveis à proposta da senadora.

Um exemplo é Charlotte Slaiman, representante da Public Knowledge que se colocou ao lado de Warren: “ficamos muito preocupados com situações em que uma companhia tem sinal verde para controlar o campo em que ela mesma joga”, disse.

Já Robert Atkinson, presidente da Information Technology and Innovation Foundation, declarou que o plano da senadora não é a favor do consumidor, mas “uma ideologia louca de o ‘grande é mau, o pequeno é bom’”.

Mas, certamente, a maior dificuldade de Elizabeth Warren vai ser lidar com a resistência dentro do governo: Amazon, Apple, Facebook e Google estão entre as empresas que mais contribuíram com campanhas políticas para o Congresso dos Estados Unidos e até para a própria presidência. Só para dar um exemplo, Eric Schmidt fez generosas doações à campanha de Barack Obama no período em que esteve à frente do Google.

Fonte: Tecnoblog